O TDAH é um transtorno das funções executivas!
- Debora Fernandes
- 26 de mai.
- 3 min de leitura
Se você já leu ou escutou isso em algum lugar, você já tem uma boa ideia do funcionamento do TDAH. Se isso é novo para você, vamos entender um pouco melhor do que se trata.
Atualmente, há muitas críticas entre os pesquisadores sobre os critérios diagnósticos do TDAH, que assumem uma compreensão específica do transtorno. A crítica começa inclusive com o nome do transtorno, que induz ao erro, pois leva as pessoas a entenderem que o TDAH é apenas um transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Para complicar ainda mais, no Brasil foi popularizado o termo TDA, que indica a presença apenas do déficit de atenção (sem hiperatividade).
Oficialmente, se seguirmos o DSM-V, o termo é TDAH com suas diferentes apresentações clínicas, que podem ser TDAH com apresentação desatenta ou apresentação hiperativa/impulsiva, ou apresentação combinada, que descreve que a pessoa apresenta características suficientes para o diagnóstico de déficit de atenção e hiperatividade/impulsividade. Então, apesar do termo TDAH não ser preciso, ele é o nome oficial do transtorno e possibilita um uso mais preciso que TDA. Mas, o que TDAH e TDA têm em comum?
A resposta é que ambos induzem ao erro de se pensar que se trata de um transtorno de déficit de atenção! Na verdade, o TDAH é um transtorno das funções executivas, sendo que se discute se os processos atencionais fazem parte do que se denomina como funções executivas.
Grosso modo, as funções executivas são um conjunto de processos que dependem do lobo frontal e que são recrutados quando precisamos fazer alguma atividade que demande um esforço cognitivo razoável e que nos faça sair dos processos automáticos. Existem alguns modelos teóricos na literatura que privilegiam determinados processos executivos, como o controle inibitório, a mudança atencional (flexibilidade) ou mesmo a memória de trabalho.
Ao lado disso, há diversos estudos ao longo das décadas que implicam as redes neuronais frontais no TDAH e, mais recentemente, outras regiões cerebrais estãoaparecendo nos estudos de neuroimagem funcional e outras técnicas. Desse modo, novos achados estão abrindo outros caminhos para o estudo do funcionamento cerebral no TDAH.
Nesse contexto, entende-se que o lobo frontal de uma pessoa com TDAH funciona com um nível de atividade menos intensa do que a mesma região de um cérebro sem TDAH. Então, o prejuízo não é apenas atencional, mas sim executivo de forma geral. Dessa forma, nem todas as pessoas apresentam os mesmos déficits executivos ou atencionais, pois podem variar os processos que estão preservados ou prejudicados (ou a gravidade do prejuízo) e as pessoas desenvolvem estratégias ao longo da vida que podem funcionar melhor ou pior para cada déficit executivo.
Por isso, não existe um perfil único e exclusivo do TDAH, não existe uma única figura clínica. Podemos comparar diferentes pessoas com o transtorno e perceber que suas potencialidades e dificuldades podem ser bem distintas, mesmo que elas tenham alguma ou algumas dificuldades em comum. Ou seja, o funcionamento cognitivo pode diferir muito entre diferentes pessoas.
Nesse sentido, como o nome do transtorno induz ao erro, pessoas que percebem com mais clareza uma maior dificuldade em manter o foco atencional procurarão avaliação e tratamento. Ao longo do caminho, essas pessoas entenderão que o déficit não é apenas atencional.
No entanto, em alguns casos, os principais prejuízos cognitivos não são tão óbvios como o foco atencional e são muito menos intuitivos para as pessoas leigas. Então, qual é a chance dessas pessoas procurarem ajuda e receberem diagnóstico e tratamento adequados?
Se os profissionais não tiverem uma visão mais assertiva do transtorno e dos possíveis déficits executivos envolvidos, muitos diagnósticos serão erroneamente desconsiderados e os tratamentos não serão tão eficazes, pois muitas das intervenções envolvem as funções executivas. Assim, é necessário que o tema seja discutido de forma mais consciente e aprofundada para que o conhecimento seja adequadamente difundido e mais pessoas possam se beneficiar das mudanças advindas da avaliação e dotratamento eficazes.
Comentários