Sou eu ou é o meu TDAH?
- Debora Fernandes
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Eu escuto muito esse questionamento no consultório, tanto nas avaliações como nas sessões de terapia. Essa questão é uma das grandes implicações do TDAH enquanto um transtorno do neurodesenvolvimento. Vamos entender um pouco melhor!
Por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, como comentado em outro texto do blog (O TDAH enquanto transtorno do neurodesenvolvimento), entende-se que a pessoa já nasce com um funcionamento diferencial do cérebro. Tal funcionamento faz parte da pessoa e terá uma relação direta com o seu desenvolvimento cognitivo, acadêmico, emocional e social. Toda a sua subjetividade será construída a partir de seu funcionamento diferencial em uma relação bidirecional com o seu mundo.
A pessoa interage com o mundo e se constrói em função dessa interação, tendo suas características influenciadas pelas relações estabelecidas ao longo da vida. Toda a construção da subjetividade carrega o TDAH dentro de si enquanto formas de se relacionar com as pessoas, com os estudos, os desafios, as tomadas de decisão, enfim com o mundo. Quer dizer, ele é intrínseco à pessoa desde o seu nascimento e a pessoa se constrói como um todo, imbuída das características especificas que apresenta do transtorno que se funde com a sua personalidade em construção.
Não existe um TDAH que anda de mãos dadas com a pessoa e que está ao seu lado como uma entidade separada. É importante que a pessoa entenda que ela é o que ela é, ela é uma unidade, uma pessoa por inteiro e não com partes separadas, como em “eu e meu TDAH”. Frases como “meu TDAH fez isso ou aquilo” podem ser engraçadas e ajudar no enfrentamento dos obstáculos da vida, mas não representam o funcionamento real da pessoa.
O TDAH não define ninguém, a pessoa é muito mais que isso, é muito mais que apenas um transtorno. E a pessoa não pode deixar esse diagnóstico a definir enquanto ser humano. Ela precisa se compreender para além do transtorno e de forma completa, complexa e única.
Por fim, a resposta à pergunta “sou eu ou é o meu TDAH?” parece mais simples agora, mas não será tão simples conforme as pessoas forem se deparam com as dificuldades advindas do TDAH em sua vida cotidiana. A resposta é você, com tudo o que você é, além do TDAH. O TDAH faz parte de quem você é, mas não tem vontade própria. Não se esqueça, a sua personalidade inclui determinadas características do transtorno, misturadas em toda a sua subjetividade.
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